Capítulo III – Tormod MacRath
– Finalmente! – gritou um jovem minerador nas cavernas próximas da cidade de Kyrian, na região de Amlodd. O jovem revelou com sua talhadeira uma gema azul que tinha uma leve luz própria, que estava encravada na rocha. Às suas costas assomou um homem alto, de expressões sisudas cujo lado esquerdo do rosto tinha uma marca do nariz até próximo a sua orelha. Seus olhos eram cinzentos e os cabelos esbranquiçados. Seu nome era Conn, o capataz daquela mina. Ele trabalhava para Tormod MacRath. – Aqui, sr. Conn – disse o jovem finalmente tirando a gema da pedra – encontrei mais um cristal de luz.
– Bom trabalho, meu jovem – Disse Conn, com uma voz grave e rouca, no máximo da sua gentileza. – Agora continue, o mestre Tormod espera muito mais dessas minas.
A gema foi depositada em um caixote de prata onde as gemas eram guardadas. A prata conservava a propriedade daquela gema em específico, que de outra forma poderia interagir com objetos externos, soltando descargas estáticas perigosas o suficiente para desacordar ou mesmo matar uma pessoa.
Os Cristais de Luz forneciam a energia a lâmpadas e máquinas engenhosas nas maiores capitais. Sua energia se esgotava de acordo com seu uso, por isso sua mineração é constante para suprir a demanda. Não há escassez, porém ele é o mais raro dos três cristais conhecidos. Em toda Wolnard a tecnologia é predominantemente mecânica por tração humana ou animal. Contudo, a energia fornecida pelos cristais de luz é reservada a espaços de nobreza ou de de alta necessidade de trabalho, como extração de água do solo, viagens pelo mar de Garth ou usada na própria mineração dos cristais.
Entretanto, os Cristais de Luz, de Riqueza e de Vitalidade podem fornecer, na combinação certa, junto a uma Reveladora – uma máquina feita para misturar as energias emanadas dos cristais – a localização do outro ainda mais raro cristal, o Cristal Elemental. O Cristal que, se possuído por uma pessoa preparada para usar sua energia, seria possível criar um elo com qualquer um dos Titãs de Wolnard. E tais pessoas são os Sync. Feiticeiros que recebem o dom espiritual do domínio dos cristais elementais.
O cristal elemental se manifesta em um dos quatro elementos formadores: fogo, vento, água e planta, dependendo da habilidade do Sync que o utiliza, pois cada titã tem afinidade com um dos elementos. Quanto mais habilidoso, mais poderosa e assertiva é a ligação. Tornando um Sync bastante reconhecido e general de exércitos e defensor dos interesses de suas tribos ou regiões.
Existem apenas três Reveladoras conhecidas em Wolnard. Uma está em Amlodd, no Obelisco de de Seren. As outras duas nos Obeliscos de Morgaine e no de Elin. Os dois últimos Obeliscos são apenas relatos e nomes, suas localizações exatas não são mapeadas, ou são imprecisas. Tormod é o um dos mais antigos dos Sync do sul de Wolnard, muito habilidoso e poderoso. Conseguiu sincronizar com qualquer titã com o que já se deparou. Talvez seu poder e habilidade se equipare ao próprio Uilleam Glas, Sync lendário do norte, há muito desaparecido. A região de Amlodd, graças a Tormod cresce soberana no sul, sendo a mais expoente dos territórios vizinhos. Seu território se expande a cada Temporada das Arenas, pois nenhum dos outros Sync consegue vencer Tormod em batalha. Sua capital, Germot, é a mais desenvolvida de toda Wolnard. Tormod é recluso e vive enclausurado em sua torre nos arredores de Germot e de lá comanda seus servos nas minas e em outros afazeres. Saindo somente quando a temporada das Arenas se inicia ou algum outro conflito mais urgente o demanda.
A certa altura antes do pôr do sol, Conn chegava à torre. Ao olhar para uma de suas janelas mais altas, ele viu uma sombra sumir de onde outrora estava emoldurada. Esperou os porteiros moverem a pesada porta de ferro e madeira do pátio e entrou com a carroça, que levava pelo menos uma dúzia de caixotes de prata.