Capítulo I – Cailean MacPhaiden

Os últimos dias não estavam sendo bons para Cailean MacPhaiden. Seu cavalo havia tombado às margens do rio Mez devido ao envenenamento pela mordida de um alponite (uma espécie de lagarto de oito patas, muito esguio e com presas inoculadoras de veneno). E isso já fazia pelo menos dois dias. Estava um dia claro naquela primavera e Cailean sentia muito calor, seu tornozelo doía, certamente haviam bolhas estourando em seu pé, enfiado em uma calçado de couro já bastante úmido dos córregos que ele teve que atravessar. Já não comia desde o dia anterior e a última tentativa de caça (fracassada) levou consigo, além da última flecha, a esperança de uma refeição decente. Tudo o que Cailean tinha naquele momento eram pequenas frutas vermelhas que se arriscou a comer sem saber se poderia – mas, pensou ele, ainda bem que tinham um gosto doce.

Cailean estava viajando de Eilidh sua cidade natal, até Ailis, a capital de Padarsan, a região onde vivia. Ele fazia parte da tribo MacPhaiden, uma das tribos do norte de Wolnard. Sua peregrinação encontrava-se estagnada em algum lugar da floresta de Muire, que fica a meio caminho dos vinte dias de viagem previstos. Entretanto, em suas contas, aquele já poderia muito bem ser o vigésimo dia.

Tudo isso por que Cailean teve uma visão.

Em seu sonho, Cailean avistou acima das árvores que cercavam sua vila uma enorme criatura a descortinar as nuvens com o farfalhar daquelas enormes asas, deixando como rastro o céu azul. O vento que chegava ao chão balançava árvores e varria os campos.

A criatura sobrevoou gritando o local onde estava, projetando sua sombra imensa e transformando um dia claro em noite por um breve momento. E quando olhou na direção para onde ela ia, outra enorme criatura abria clareiras entre as árvores.

Ambas as criaturas se chocaram e o estrondo fez tremer a terra. A criatura que vinha pelo chão tinha chifres imensos e braços poderosos. Agarrou a criatura voadora e a arremessou contra o solo. Novamente um tremor abalou toda a vila e algumas casas ameaçaram a ruir, soltando pó de seus telhados e janelas.

Cailean notou algo ainda mais peculiar na batalha entre aqueles titãs. Havia um homem sobre o ombro da criatura com chifres. O homem estava em volto a uma aura de luz e fumaça roxa, portava um cajado e vestimentas com detalhes dourados que mesmo àquela distancia poderia se ver reluzindo.

No instante seguinte Cailean se viu sobre a cabeça da criatura que voava. Alto no céu, seu estomago deu cambalhotas e ele imediatamente temeu pela vida. Mas a sensação logo passou e ele pode ouvir em sua mente os pensamentos da criatura alada.

– Este Bungite não se entregará fácil – ela dizia, em uma língua grasnada mas que ele entendia perfeitamente – Precisamos de distância, diretamente não temos chance. – Ao que Cailean apenas anuiu.

A criatura tomou altura, e mergulhou a uma velocidade tão estonteante que última coisa que Cailean viu em sua visão foi um enorme clarão e os olhos frios, cinzentos e com brilho opaco do homem que estava no ombro da outra criatura.

Cailean sonhou que era um Sync em batalha contra outro Sync desconhecido. Ele montava um Veboros, um poderoso titã alado. Desnorteado com o sonho e sabedor da tradição, Cailean contou sua visão para o líder de sua cidade, e ele o comandou que iniciasse sua peregrinação para que se tornasse o Sync da tribo de MacPhaiden. E assim partiu Cailean, em busca de realizar as tarefas e absorver os conhecimentos para tal, no alto dos seus dezesseis anos.

Sua coragem e animação que antes encheria o Lago de Biaëe, agora mal caberia em um copo. Cailean estava exausto e sem esperanças. Sua visão da batalha entre Syncs se repetia inúmeras vezes em sua mente, junto com seu questionamento sobre se isto bastaria para que ele tivesse sido enviado em tal empreitada. E no fim, por que ele? E se foi apenas um sonho bobo? Cailean estava sonolento. Ainda era meio de tarde e tinha muita luz. Estava quente. Engoliu a última de suas frutinhas, deitou e adormeceu.

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